domingo, 27 de julho de 2008

Quando ninguém está olhando

Uma vez eu li uma frase que me fez refletir bastante: Só somos quem somos quando ninguém está olhando. Ela pode até parecer um tanto quanto ofensiva, mas é real. É difícil de admitir certos pensamentos, mesmo sendo reais. O mundo espera que sejamos tão perfeitos que um pensamento fora do padrão nos faz sentirmos envergonhados. Acorde, o padrão não existe.

Nenhuma pessoa de carne, osso e sangue quente tem uma família tão perfeita quanto aquelas que tomam café da manhã em comercial de margarina. E isso não nos diminui como ser humano. Ao contrário, faz com que sejamos cada vez mais humanos. Quem nunca teve uma discussão? Quem nunca esteve errado e jurou estar certo? Quem nunca espiou as cartas do adversário?

Se desprender das normas é bom, só não vale exagerar. O desprendimento faz com que você sinta mais emoção. Faz com que aumente a aceleração dos seus batimentos cardíacos. Você sua.

Que graça teria aquele aniversário se você não tivesse comido aquele pedaço a mais de torta de chocolate. E nada como chocolate, a que mais engorda. A maior fatia. E que diferença fez no seu relacionamento aquele episódio em que transaram em um local proibido. O medo de serem apanhados. A pele arrepiada.

Cometer pequenos pecados é o que estimula a criatividade humana. Já pensou se você acordasse todos os dias às seis da manhã com um sorriso de Monalisa, fosse ao trabalho, não conversasse nenhuma banalidade, saísse de lá para casa, jantasse, papai e mamãe e às dez da noite já estar no sono dos anjos. Patético não é mesmo? Então invista nos exageros, pois o mundo está cheio de tentativas fracassadas de comerciais de margarina. Divirta-se.

domingo, 6 de julho de 2008

O beijo da prostituta

O humano com certeza é o bicho mais engraçado que existe. É o animal racional, mas é o que menos se entende. Um animal irracional pode não compreender uma lógica matemática, mas ele sobrevive bem sem isso e agradece. Um animal irracional não flerta e nem perde tempo com aquela conversinha mole no balcão do bar com um copo de qualquer coisa que contenha álcool nas mãos, ele segue o instinto, sente o cheiro e consuma o fato. Preto no branco. Simples, prático, fácil. Sem rodeios e mais eficiente.

Um macaco também não saberia fazer uma lasanha de quatro queijos, mas com certeza não passaria fome se visse comida em sua frente. Não saberia que a fome é causada devido à ausência de proteínas no organismo e que é uma resposta natural do mesmo, mas isso não faria diferença: ele comeria do mesmo jeito que qualquer humano e ainda por cima melhor, pois ele não se preocupa com a balança.

Um animal irracional vai direto ao ponto. Ele não escreveria uma crônica comparando um homem e um macaco durante dois parágrafos para tentar falar sobre a mente humana. E o pior é que mesmo no terceiro parágrafo ele ainda não consegue falar. Dê uma folga para ele, já são quase onze horas e ele trabalhou o dia inteiro. Não se sente inspirado para escrever, mas resolveu fazer isso sem mesmo saber o porquê. Está no sangue, ele pensa.

Então, se existem esses rodeios para falar sobre a mente humana, será que ele não existe por um motivo? Quer dizer, será que esse rodeio afinal de contas, não é exatamente a discussão sobre a mente humana? Eu não sei dizer. A mente humana é um assunto complexo demais para escrever em uma crônica simples, ainda mais se você é um aluno do primeiro semestre de um curso de administração. Você conhece tanto de psicologia quanto um molho de beterrabas.

Mas mesmo assim o cronista e filósofo amador não desiste. Escreve seus pensamentos mais íntimos, tão íntimos quanto o beijo na boca. Sim, ele pensa que o beijo é mais íntimo que a própria relação sexual. Afinal de contas, prostitutas não beijam na boca. Elas vendem seu corpo, mas não beijam. O beijo é mais que uma mercadoria. É o gesto mais íntimo e reservado do ser humano por mais incrível que possa parecer. E o pensamento sobre a mentalidade humana também é algo extremamente particular. Se nós somos os racionais, então cada um deve ter uma forma de pensar, uma opinião própria. Ou não. Um macaco nunca precisou disso. Mas a primeira prostituta pensou nisso quando decidiu não beijar seus clientes.