domingo, 6 de julho de 2008

O beijo da prostituta

O humano com certeza é o bicho mais engraçado que existe. É o animal racional, mas é o que menos se entende. Um animal irracional pode não compreender uma lógica matemática, mas ele sobrevive bem sem isso e agradece. Um animal irracional não flerta e nem perde tempo com aquela conversinha mole no balcão do bar com um copo de qualquer coisa que contenha álcool nas mãos, ele segue o instinto, sente o cheiro e consuma o fato. Preto no branco. Simples, prático, fácil. Sem rodeios e mais eficiente.

Um macaco também não saberia fazer uma lasanha de quatro queijos, mas com certeza não passaria fome se visse comida em sua frente. Não saberia que a fome é causada devido à ausência de proteínas no organismo e que é uma resposta natural do mesmo, mas isso não faria diferença: ele comeria do mesmo jeito que qualquer humano e ainda por cima melhor, pois ele não se preocupa com a balança.

Um animal irracional vai direto ao ponto. Ele não escreveria uma crônica comparando um homem e um macaco durante dois parágrafos para tentar falar sobre a mente humana. E o pior é que mesmo no terceiro parágrafo ele ainda não consegue falar. Dê uma folga para ele, já são quase onze horas e ele trabalhou o dia inteiro. Não se sente inspirado para escrever, mas resolveu fazer isso sem mesmo saber o porquê. Está no sangue, ele pensa.

Então, se existem esses rodeios para falar sobre a mente humana, será que ele não existe por um motivo? Quer dizer, será que esse rodeio afinal de contas, não é exatamente a discussão sobre a mente humana? Eu não sei dizer. A mente humana é um assunto complexo demais para escrever em uma crônica simples, ainda mais se você é um aluno do primeiro semestre de um curso de administração. Você conhece tanto de psicologia quanto um molho de beterrabas.

Mas mesmo assim o cronista e filósofo amador não desiste. Escreve seus pensamentos mais íntimos, tão íntimos quanto o beijo na boca. Sim, ele pensa que o beijo é mais íntimo que a própria relação sexual. Afinal de contas, prostitutas não beijam na boca. Elas vendem seu corpo, mas não beijam. O beijo é mais que uma mercadoria. É o gesto mais íntimo e reservado do ser humano por mais incrível que possa parecer. E o pensamento sobre a mentalidade humana também é algo extremamente particular. Se nós somos os racionais, então cada um deve ter uma forma de pensar, uma opinião própria. Ou não. Um macaco nunca precisou disso. Mas a primeira prostituta pensou nisso quando decidiu não beijar seus clientes.

Um comentário:

carolinda disse...

caralho cara, muito bom.
"Ele não escreveria uma crônica comparando um homem e um macaco durante dois parágrafos para tentar falar sobre a mente humana."
admissão e conhecimento de si. muito bom.
adorei.